Por que o machismo cria barreiras para as mulheres na tecnologia (2023)
O futuro está sendo escrito em linhas de código. E o público feminino, apesar de usuário de apps,redes sociais e dispositivos digitais, não participa da produção da tecnologia. Precisamos falar sobre os desafios das mulheres na área e o que fazer para aumentar sua participação.
Problema cultural que começa na infância
Pense rápido: qual era seu brinquedo favorito? É provável que, caso você seja mulher, a respostaseja boneca ou panelinhas. Se você é homem, possivelmente respondeu à pergunta lembrando devideogames ou computadores. Essa divisão, considerada natural por muitos, reflete estereótipos degênero construídos historicamente, que delegam às garotas, desde cedo, tarefas e interessesrelacionados à esfera do cuidado e ao âmbito privado. “Não podia brincar com meus primos e irmãos.Era presenteada com bonecas e objetos cor-de-rosa, que eu detestava", conta a analista de sistemasLarissa Pereira Gambale, 22 anos. Já a designer de produto Lucía Salamanca, 27 anos, cansou de ouvir:“você não pode ser igual aos meninos”, “olha, ralou o joelho...Parece moleque!”, “Tente ser mais feminina…”.
Apesar de ter sido desbancada pela ciência,ainda persiste a ideia de que razões biológicas determinamos caminhos distintos de meninos e meninas. De acordo com essa percepção, a mulher teria uma habilidade“natural” para atividades que exigem atenção e afeto, mas não racionalidade, atributo considerado masculino.Existem diferenças sutis no tamanho e na composição dos cérebros masculino e feminino, é verdade. A relaçãoentre elas e o comportamento de ambos, entretanto, continua desconhecida. Vale lembrar que a estrutura e afunção cerebral mudam em resposta à experiência, de modo que quaisquer diferenças podem relacionar-se a diferençasem sua socialização e educação. "A maneira como nossa sociedade pensa e define o que é ser mulher e o que é ser homem tem relação direta com o desenvolvimento de suas habilidades e competências", diz a socióloga Bárbara Castro, autora de uma pesquisa de doutorado que investigou a presença feminina em TI.
Tal divisão repercute nos modos de ser de homens e mulheres, influenciando escolhas futuras, inclusive asprofissionais. Não por acaso, é incomum ver meninas que se identifiquem desde cedo com as carreirastecnológicas e das ciências exatas. Em seu estudo, Bárbara descobriu que todas as suas entrevistadas buscavam uma justificativa de interesse pela área amparadas na inspiração em alguém próximo que havia escolhido essacarreira e lhes mostrado como ela poderia ser interessante. Já os homens, quando perguntados sobre como e quandose interessaram por TI, respondiam que sempre gostaram de tecnologia e máquinas. "É um caminho que para eles seapresenta como natural. Para elas, algo a ainda ser desbravado", diz Bárbara.
“Minha família até tentava direcionar minhas atividades para coisas mais femininas,mas eles sempre apoiaram que eu explorasse o que quisesse. Gostava de desmontar asbonecas para, por exemplo, tirar o motorzinho e fazer um ventilador.”
Tatiane F., 36 anos
Segundo a pesquisadora, essa construção atravessa gerações. As feministas inglesas,por exemplo, já demonstraram como se estabeleceu uma relação entre tecnologia e masculinidadehistoricamente. “Quando, na revolução industrial, no século 19, separa-se o trabalho produtivodo espaço da casa e os homens é que passam a atuar mais massivamente no trabalho industrial,eles é que manipulam as máquinas, as desenvolvem e as aperfeiçoam”, continua ela.
A associação entre tecnologia e masculinidade continua a distanciar as meninas de TI. Elas sofrempreconceito de amigos, colegas e da sociedade ao fazer escolhas atreladas ao universo masculino.“Muitas vezes, são acusadas de serem homossexuais, o que não deveria ser um problema em si”,finaliza Bárbara. “Meu pai me proibia de utilizar qualquer brinquedo masculino. Certa vez, ganheium pião e ele jogou fora. Achava que eu pudesse virar ‘sapatão’!. Quando decidir ir para a faculdadede TI, por sorte ele não sabia o que era”, conta Tuany Fortunato, 26 anos. E o que dizer do estereótipodo programador inteligente, mas sem muitas habilidades sociais, que vara noites escrevendo códigos?“É difícil se identificar com algo que não somos”, diz Sílvia Amélia Bim, professora da UniversidadeTecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e uma das coordenadoras do Emílias - Armação em Bits, projeto quevisa incentivar a tecnologia como opção de carreira para meninas, além de apoiar as que já estão no ensinosuperior.
O processo de masculinização da informática, mais precisamente, a figura do geek anti-social, se desenvolveuna década de 1960, a partir da instituição de programas formais da disciplina, de revistas e sociedadesprofissionais e programas de certificação. Ou seja, tem pouco a ver com habilidades intelectuais de origembiológica, mas com corporativismo. Quem conta essa história é Nathan Ensmenger, professor da Universidadede Indiana, nos Estados Unidos, no livro The Computer Boys Take Over: Computers, Programmers, and the Politicsof Technical Expertis (sem tradução no Brasil).
Ao mesmo tempo, novas ferramentas de contratação - incluindo as aparentemente objetivas - reforçaram a presençamasculina na área. Os testes privilegiavam problemas matemáticos, cuja resolução estava disponível em associaçõese organizações universitárias de programadores. Um outro tipo de avaliação, o perfil de personalidade, inclinou-seainda mais para os candidatos do gênero masculino. Com base em uma série de perguntas, elaboradas por recrutadores,tais provas procuraram identificar os melhores, tendo como referência os traços de personalidade de profissionais decolarinho branco (funcionários de escritório, advogados, contadores, por exemplo), com uma distinção: o funcionárioideal tinha "desinteresse nas pessoas" e não gostava de "atividades envolvendo uma interação pessoal".
E foi assim que, a informática, tema de uma reportagem da revista Cosmopolitan que, em 1967, encorajava as mulheres a aderir à área, virou terreno masculino.
A ideia de que muitas das profissões de informática eram historicamente comuns para as garotas e de fato já foramocupações 'femininas' parece extraordinária, se não inacreditável. “E, no entanto, uma compreensão histórica decomo as profissões de computação adquiriram sua identidade de gênero, como elas eram "feitas masculinas" é fundamentalpara qualquer tentativa de enfrentar o desequilíbrio atual", escreve Ensmenger.
Diferentemente do que costumamos pensar, a evolução da área está repleta de exemplos de mulheres que tiveram contribuiçõesfundamentais. Navegue na linha do tempo para conhecê-las.
"Não levo jeito para matemática" e outros mitos que afastam as garotas
Nosso modelo de educação tampouco ajuda a desconstruir noções preconcebidas que ganham espaço ainda na infância, com adicotomia entre brincadeiras e modos de ser menino e menina. Na escola, essa separação continua a influenciar as futurasescolhas delas. Um estudo publicado em 2016 pela Associação Americana de Pesquisas Educacionais mostra que a disparidadede performance começa a surgir na Educação Infantil, como reflexo dos estereótipos culturais.
“Você tem certeza que quer estudar essa faculdade? Não sabemos se você consegue.”
pais de Lucía S., 27 anos
Os pesquisadores acompanharam dois grupos distintos: um de 5.000 crianças, que entrou no jardim de infância em 1998,e outro de mais de 7.500 integrantes, em 2010. Eles observaram que a diferença nas habilidades matemáticas não mudoumuito nas duas amostras, que ingressaram na pré-escola separados por 12 anos. Inicialmente, ambos tinham habilidadesmatemáticas iguais. Mas a disparidade logo começou a ser identificada, e a partir da metade do ano havia mais meninosque meninas no grupo de alunos com melhor desempenho. Chegando na terceira série, a diferença se difundiu,particularmente entre quem tinha melhor desempenho escolar.
O estudo também mostrou que os professores consideraram a performance das alunas inferior a dos alunos, mesmo que elastivessem notas idênticas às deles. As expectativas mais baixas em relação às garotas podem influenciar as habilidadesfuturas delas de várias maneiras. O medo e a ansiedade podem ser um impedimento para aprender. Nos anos iniciais do ensinofundamental, onde a maioria dos docentes é do gênero feminino, a ansiedade delas próprias em relação à matemática trazconsequências para o desempenho das meninas,influenciando as crenças das pequenas sobre quem ébom na disciplina. "Muitas escolhem nãoprosseguir carreiras em ciência, tecnologia eengenharia porque não têm a confiança em suacapacidade de se destacar em Matemática, apesar de ter capacidade e habilidades para fazê-lo", diz uma das autoras do estudo, Sian Beilock, professora do departamento de psicologia da Universidade de Chicago, em entrevista à Programaria.
Meninas – mesmo as que vão melhor – se sentem menos confiantes em matemática. 2 a cada3 meninas, contra 1 em 2 meninos.
Fonte: ABC da Igualdade de Gêneros na Educação: Aptidão, Comportamento e Confiança
Outro trabalho, realizado por pesquisadores das universidades de Nova York, Princeton e Illinois, também nos Estados Unidos, investigou o comportamento de crianças de 5, 6 e 7 anos em relação a suas habilidades intelectuais. Com 5 anos, elas foram convidadas a ouvir uma história sobre uma pessoa “muito, muito inteligente”, sem qualquer pista sobre o gênero do protagonista. Ao serem perguntadas sobre quem seria tal pessoa, escolheramalguém do mesmo sexo. A partir dos 6 anos, pelo menos para as meninas, essa identificação começa a diminuir.
Os estudos do psicólogo Andrew Meltzoff, codiretor do Instituto de Aprendizado e Ciências do Cérebro da Universidadede Washington, apresentam mais evidências sobre o poder dos estereótipos culturais no aprendizado das crianças. A pesquisaaponta dados parecidos: “Muito cedo, as garotas incorporam falsas concepções de que não são boas em Matemática”, escreveos autores no artigo Estereótipos de Gênero e Matemática em Crianças da Escola Primária.
E mais: o espaço físico pode contribuir para projetá-los. Se a sala tinha pôsteres de Jornada nas Estrelas e estátuas deSpock, em vez de itens neutros, menos garotas do ensino médio queriam estar naquele ambiente. Usando análises estatísticas,Meltzoff descobriu que as elas sentiam não "pertencer" a esse lugar.
Informações semelhantes vêm da Universidade de Tel Aviv, em Israel. Os autores realizaram o seguinte experimento, comtrês grupos de estudantes, da 6ª série até o fim da escolaridade: cada um fez duas provas idênticas, e elas foram corrigidaspor dois times de professores: um que sabia os nomes dos alunos (capaz, portanto, de deduzir o sexo deles) e um que corrigiuprovas anônimas. As correções foram desiguais mesmo quando as respostas eram iguais.
Viés inconsciente: estudos mostram que professores tendem a darnotas melhores para meninos, mesmo quando a performance em relaçãoa meninas é semelhante.
Edith Sand e Victor Lavi
O time que sabia os nomes deu notas mais altas aos garotos. Já a correçãoanônima deu notas maiores às garotas. Mas esse efeito só foi observado nasdisciplinas de Matemática e Ciências – as provas de Inglês, por exemplo,receberam avaliações parecidas. Os pesquisadores concluíram que os docentessuperestimaram as capacidades dos meninos, em comparação às meninas. A práticateve consequências de longa duração: poucas jovens demonstraram interesse pelasáreas de Ciências Exatas quanto o grupo estava prestes a se formar. "Nossosresultados sugerem que o comportamento tendencioso dos professores na fase inicialda escolaridade tem implicações nos ganhos salariais de longo prazo. Esse impacto émaior para crianças de famílias nas quais o pai é mais educado que a mãe e em garotasde nível econômico mais baixo", escrevem Edith Sand e Victor Lavy no artigo.
As percepções das meninas sobre si mesmas determinam o quão bem elas se motivam e perseveramao enfrentar dificuldades para aprender matemática. Também influenciam as escolhas delas sobrecursos e atividades extracurriculares. O segundo mostra, a partir dos dados do Programa Internacionalde Avaliação de Alunos (PISA), que elas são melhores que os meninos em leitura, em todos os paísesexaminados. Já eles se destacam em matemática, apresentando melhores resultados na disciplina emseis de cada 10 países.
“Já passei por situações em que professores (homens) me ignoraram em relação a dúvidas e ideias que eu tinha sobre as matérias, mas para meus colegas eles estavam sempre disponíveis”
Sara M., 20 anos
Mais do que ser uma evidência sobre a diferença entre habilidades natas de meninos e meninas, os dadosmostram como as narrativas culturais afetam seus caminhos. A discrepância varia consideravelmente entre os países.Nas nações com os maiores níveis de igualdade de gênero, a diferença no desempenho matemático desaparece. Na Islândia,por exemplo, as mulheres superam os homens em matemática. Segundo as descobertas de uma equipe de pesquisadores lideradapor Joan Chiao, da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, isso tem a ver com a sensação de empoderamento delas.A pontuação feminina em testes matemáticos aumentou quando elas lembraram, pouco antes, de experiências em que exerceram poder.
Os estereótipos de gênero não se restringem à matemática, impactando o gosto pela leitura e até o tipo de livro preferido. Na obra Psicologia Diferencial, de 1974, a americana Anne Anastasi, da Universidade de Columbia, pesquisou os interesses demonstrados pormeninos e meninas, chegando à conclusão de que as preferências são marcadas, principalmente, por fatores culturais presentes na formacomo são criados e que as crianças incorporam a influência cultural e desenvolvem um conceito nítido dos papéis que a sociedade atribui a homens e mulheres. Enquanto os meninos preferem temas relacionados a aventuras, viagens, explorações, e textos informativos (como manuais),as meninas gostam de ficção, com histórias de amor e romances, contos que tenham crianças como protagonistas e enredos que envolvem a vida em família.
As meninas são melhores leitoras que os meninos em todos os países.
Fonte: ABC da Igualdade de Gêneros na Educação: Aptidão, Comportamento e Confiança
Essa lógica atravessa toda a trajetória educacional das garotas, com desdobramentos em suas escolhas futuras, incluindo a profissão. Ao fim da educação básica, uma parcela ínfima delas deseja estudar tecnologia e áreas correlatas, como mostram as matrículas das principais universidades do país. Na Unicamp, por exemplo, só 12,3% dos aprovados no vestibular de Ciências da Computação em 2016 eram mulheres. "Você tem certeza que quer estudar nessa faculdade? Não sabemos se você consegue", ouviu Lucía Salamanca, 27 anos,de parentes. O pai de Larissa Pereira Gambale foi mais direto. “Quando passei na faculdade de análise de sistemas, ele não queriaque eu seguisse essa área. ‘Você não vai trabalhar no meio de homens. Faça administração’.”
Curiosamente, elas são maioria no Ensino Superior, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).Representam 55% do total de 2 milhões e 125 mil alunos matriculados em cursos diurnos e noturnos. Na conclusão dos estudos, 491 mil alunasformaram-se, enquanto 338 mil homens terminaram seus cursos em 2013.
Metade dos pais no Chile, Hungria e Portugal esperam que seus filhos sigam uma carreira nasáreas tecnológicas, enquanto só 20% veem as filhas fazendo o mesmo.
Fonte: ABC da Igualdade de Gêneros na Educação: Aptidão, Comportamento e Confiança
Chama atenção, porém, que a preferência feminina ainda recaia sobre as áreas de humanas e saúde. Enfermagem, por exemplo, tem 84,4% de alunas.Historicamente, as matrículas das mulheres no ensino superior estiveram concentradas em determinadas áreas, como ciências humanas, letras e artes,reforçando a divisão sexual do trabalho. Já entre o público masculino, os dados mostram que as áreas de maior inserção estão ligadas às exatas,como as engenharias e cursos relacionados à tecnologia, como ciências da computação, que chega a ter 85,4% de homens.
Mulheres
Homens
Clique e compare com outros cursos
Fonte: Gênero e Número
A inclusão das garotas nas profissões científicas tem-se dado em ritmo mais lento do que em outras áreas ehá uma tendência de as ciências exatas – matemática, física, engenharias– atraírem relativamente poucasmulheres. Nos últimos anos, as brasileiras perderam representatividade nos cursos relacionados à computação.Em 2013, passaram a representar apenas 15,53% dos ingressantes, segundo o Censo da Educação Superior.
Na maioria das vezes, o ambiente universitário mostra-se pouco acolhedor, o que explica o aparentedesinteresse e as altas taxas de evasão. “Antiquado e cruel”, na definição da programadora CamillaFalconi, 29 anos. A maioria dos colegas dela já tinha feito curso técnico, conhecia webdesign ou tinhatido acesso a códigos ou exercícios de lógica previamente. “Sem a mesma experiência quando entra no curso,você se sente incapaz, e muitas vezes quer desistir”, diz ela. Uma parcela significativa desiste de fato: 79%as mulheres que ingressam em formações relacionadas à área de TI abandonam a faculdade ainda no primeiro ano,segundo dados da Pnad. "Uma vez, fiz uma pergunta ao professor sobre algoritmos. Um menino disse que, se estivessetão difícil pra mim, que eu fosse fazer balé", diz Lidiane de Paula, 30 anos, que estudou sistemas de informação."Um professor ridicularizou uma colega de classe perguntando se ela era casada. Disse que ela deveria casar logo,pois quem continua solteira não é bem vista pela sociedade. Confrontei o professor, em uma sala em que 95% dosalunos eram homens, e disse que ter ou não ter um namorado ou marido não muda em nada nosso sucesso ou objetivos devida. Depois, ele tentou confirmar o que tinha dito antes, tirando sarro do que eu havia acabado de dizer", contaMariana Carvalho, 24.
Quatro vezes mais meninos planejam seguir uma carreira profissional em engenharia ou informática.
Fonte: ABC da Igualdade de Gêneros na Educação: Aptidão, Comportamento e Confiança
Também são comuns os casos de estudantes que são ignoradas pelos professores e colegas. “Já passei porsituações em que professores (homens) me ignoraram em relação a dúvidas e deias que eu tinha sobre asmatérias, mas para meus colegas eles estavam sempre disponíveis”, diz Sara Maria Gonçalves, 20 anos,que estuda Sistemas de Informação. “Era menosprezada na sala de aula por gostar de me arrumar, passarbatom, pintar as unhas. Já tive que ouvir que não precisava me arrumar tanto para ir a faculdade, queestava perdida e não sabia o que queria da vida e que fazia o curso só para passar o tempo”, diz HeloisaFrasão, 24 anos. Ela é uma das seis meninas de uma sala com aproximadamente 40 alunos. Já Juliana Neres,21 anos, tinha interesse em se inscrever numa competição com um grupo de amigas. “Escutei de um colegado curso de análise e desenvolvimento de sistemas: ‘Vocês querem competir com um time de meninas ou com umtime que vai ganhar?’”. “Um professor disse que ‘mulher não devia fazer computação’ e reprovou todas asalunas da turma”, diz Clarissa Xavier, 40 anos.
Ambiente de trabalho que não acolhe a mulher
Boas notas e canudo nas mãos não são garantia para uma jovem conseguir a primeira oportunidade. Oambiente masculino e muitas vezes pouco acolhedor acaba se tornando difícil para elas. É o que apesquisadora Simone Strumpf, da Universidade de Londres chama de cultura "brogrammer", um neologismoentre "brother" e "programmer", que oscila entre confraria masculina e clube do bolinha. "Trata-se deum ambiente de trabalho que exclui as mulheres através de normas que estabelecem o comportamento ‘masculino’- por exemplo, a linguagem sexista - e que reforçam os estereótipos das funções femininas", ela explica ementrevista à PrograMaria.
Uma série de exemplos confirma a fala da especialista. “Em geral, sou uma das poucas ou a única nos ambientesde trabalho. É comum ouvir comentários desagradáveis e depois algo do tipo ‘desculpa, não percebi que tinha umagarota aqui’”, conta Tamara Mendes, 27, que já passou várias outras saias justas. De um chefe escutou: “É difícilencontrar mulheres com seu potencial na área técnica”. Mas a pior situação ela viveu com um colega de trabalho.“Ao falar mal da prova de um candidato a estágio, ele disse ‘até as meninas ali conseguem fazer essa prova’,referindo-se a mim e mais uma colega.”
Segundo a pesquisadora Simone, há outras formas de exclusão mais sutis. Por exemplo, a expectativa de longas horas detrabalho que se chocam com outros compromissos familiares e da falta de promoções. “Homens costumam subir mais rápido naminha empresa. Ser mulher é sinônimo de trabalhar o dobro. ‘Brodagem’ é a palavra de ordem para crescer”, diz A. V., 24,que não quer se identificar. “Eu já cheguei a ouvir que deveria ser mais legal, mais doce, se quisesse ser promovida, poisos colegas não gostavam do meu jeito. Se eu fosse homem, seria considerada exigente, alguém em busca da melhor performance.Mas, como sou mulher, sou grossa, direta demais. É difícil precisar se impor constantemente, mostrar que é capaz, mas, aomesmo tempo, precisar ser doce e fofa”, desabafa Paula M. “Já ouvi que não dava pra me imaginarem como gerente porque os caras‘não iriam se submeter a uma mulher’ e fui direcionada a tarefas em que era preciso colaboração”, relata Tatiane Fernandes, 36 anos.
“Um ex-chefe me interrompeu pra explicar algo que eu havia acabado de explicar para ele. Em geral as pessoas não levam meus posicionamentos a sério porque acham que eu não sei do que estou falando”
Ju G., 28 anos
Mulheres negras sofrem duplamente. Além de masculino, o setor de tecnologia é quase exclusivamente branco. “Quando chegoem eventos ou reuniões, alguém sempre pergunta se sou mesmo da área e se pretendo trabalhar com ‘esse cabelo’”, conta Sara.A maior dificuldade das afrodescentes ainda é o ingresso e a permanência na universidade, o que políticas públicas podemminimizar. “Quando estava para escolher o curso no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande doNorte, pesquisei sobre informática e lá descobri o que era programação. Comecei a cursar o médio-técnico e aí me apaixoneimesmo”, continua Sara, que se interessa por ciência, mecânica e eletricidade desde a infância, por influência do pai, que é pedreiro.
Outro fator determinante para a ausência das negras é a falta de referências. Nos Estados Unidos, apenas 2% da força de trabalhono setor de ciências e engenharia é formada por negras. No Brasil, esse dado nem existe. Alguns números ajudam a dimensionar o problema:entre os quase 100 mil bolsistas da área de exatas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) só 5,5% é composto por negras. Outro levantamento, realizado pelo Grupo de Gênero da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poligen/USP), indica que, em 120 anos, a instituição não formou nem dez negras. Já na lista de cientistas pioneiras no Brasil, criada pelo CNPq, nenhuma das citadas é negra. Ao circular por eventos e constatar que era uma das únicas, Silvana Bahia decidiu criar o PretaLab, iniciativa do Olabi que visa ampliar a representatividade de mulheres negras e indígenas na tecnologia. "Nunca achei que isso fosse para mim, mas aprender a programar me fez sentir capaz. Outras meninasprecisam ser apoiadas", conta ela.
Ser ignorada na tomada de decisões da equipe também faz parte do pacote. "Certa vez, num emprego novo, alguns rapazes fingiam que eu não estava falando durante uma reunião. Para conseguir a atenção do grupo, tive que pedir ajuda a um colega, que falou o que eu queria dizer", continua Paula. "Uma vez, numa reunião, fiz o mesmo comentário duas vezes e fui ignorada. Explodi. Disse que eles não estavam me escutando. Comentário do chefe: 'Você quer um abraço? Parece tensa'", diz Lucía, 27 anos. "Sempre fui a única programadora nas equipes em que trabalhei. Volta e meia, alguém aparecia na sala pedindo algo de programação. Mas, quando eu estava sozinha na sala, pediam para eu anotar o recado", diz Georgia Catarina, 30 anos.
Isso sem contar casos mais graves de assédio moral e sexual. Exemplos cabeludos não faltam. Este ano, o Uber afastou seu principal executivo,o então CEO Travis Kalanik, após uma investigação interna sobre a cultura corporativa da empresa. A apuração teve início depois que uma engenheirade software denunciou que a direção da Uber tinha ignorado as suas queixas e as de outras companheiras sobre situações de assédio e sexismo por partede seus superiores. Este ano, a empresa demitiu 20 empregados como consequência de uma segunda investigação sobre casos individuais de más condutasrelacionadas a assédio sexual, psicológico e discriminação.
Consciente ou inconscientemente, a descrição dos postos de trabalho em TI reforça estereótipos. Abaixo, estão algumas reproduções de anúncios de vagas que utilizam linguagem associada ao gênero masculino e ilustrações e fotos apenas de homens.
Salários menores, poucas oportunidades de crescimento e nichos femininos
Quem segue em empresas de tecnologia se depara com as mesmas questões sexistas enquanto avança - ou não - na profissão. A diferença salarial entre os gêneros é um dos primeiros entraves, seguindo uma tendência observada em outros setores. As mulheres ganham 30% menos do que homensna área de TI, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, compilados por Bárbara Castro para o seu estudo."Já descobri que um colega de equipe com a mesma qualificação e cargo ganhava o dobro do meu salário", diz a analista de segurança Vanessa Galli, 35 anos.
A diferença salarial já foi explorada em outras pesquisas, como as da economista americana Linda Babcock, da Universidade Carnegie Mellon, e autora do livro Women Don't Ask (sem tradução para o português). Uma de suas análises aponta que as mulheres ganham menos porque são menos propensas a negociar seus salários depois de uma oferta inicial. Os pesquisadores da equipe de Babcock conduziram o seguinte experimento: diziam aos participantes que elespoderiam ganhar de US$ 3 a US$ 10 para participar de um jogo. Depois do término, o pesquisador ofereceu US$ 3 e perguntou se esse montante estava correto, sem dizer que os participantes poderiam negociar e pedir mais. Se as pessoas pedissem mais, ganhariam o que pedissem até o limite de US$ 10. Os homens eram sete vezes mais propensos a pedir mais do que as mulheres. Para descrever a negociação, eles usavam metáforas como “ganhar um jogo”. Já elas, a descreviam como "ir ao dentista".
Outros estudos exploraram o que acontece quando ambos se comportam de forma assertiva nas negociações salariais. Quando se envolvem exatamente no mesmocomportamento, as mulheres são malvistas por não aceitarem as primeiras ofertas e pedirem mais. “Para nós, de forma geral, negociação significa conflito.Culturalmente, não somos estimuladas a cuidar de nossos interesses, mas a assumir o papel de cuidadoras”, diz Dani Botaro, sócia da ImpulsoBeta, uma empresade inteligência de gênero que apoia corporações a implementarem ações de diversidade.
As políticas de cada empresa podem alimentar ou minar a ambição feminina. “Mulheres em posição de liderança, por exemplo, estimulam que outras funcionáriassigam esse exemplo”, continua ela.
“O que me incomoda (e isso acontece até hoje) são os comentários do tipo "vai lá e joga seu charme (pra conseguir algo)" ou "para você é mais fácil conseguir essa informação com ele (sugerindo que por ser mulher consigo algo se o outro for homem).”
Ana Paula
A organização do mercado brasileiro de tecnologia é outro grande problema. Cerca de 93% dos negócios são de pequeno e médio porte, que comercializam software e hardware para outras empresas. Isso cria uma dinâmica de faturamento por projetos, feitos um em seguida do outro ou de maneira concomitante para nãoperder clientes. O atendimento a diversos clientes faz parte da rotina dos profissionais do setor, com deslocamentos constantes internos e externos às cidades na qual se situa a sede de sua empresa.
Essa estrutura impõe rotinas de trabalho que envolvem prazos apertados, jornadas de 10 a 12 horas diárias, e trabalho extra em períodos noturnos, finais de semana e feriados. No fechamento do projeto e no teste do software, o que ocorre, em média, a cada 3 meses, os profissionais chegam a trabalhar 72 horas seguidas. Resultado: os homens, principalmente os solteiros e mais novos, são privilegiados, e as mulheres, sobretudo as que têm filhos, preteridas. “De uma maneira geral, as entrevistadas diziam que não poderiam ser mães atuando em TI. O trabalho em horas desreguladas não permite a elas participar da rotina de seus filhos, o que causa frustração e, muitas vezes, levaao abandono da carreira”, diz Bárbara.
Em sua pesquisa, ela também descobriu que as mulheres tendem a ser afastadas dos cargos técnicos e da chamada área dura da TI, a programação, e ocupar vagas gerenciais ou nichos, como análise de sistemas, justamente onde se exige comunicação e conciliação de conflitos, papéis sociais tradicionalmente considerados femininos. “Disse que preferia a área de desenvolvimento. Mas, sem efetuar nenhum teste, me falaram: ‘Você leva mais jeito para fazer a documentação”, afirma desenvolvedora Ingrid Vaz, 26 anos.
Tal padrão foi seguido pelas 30 executivas entrevistadas por Bárbara e está relacionado à desconfiança das habilidades dessas profissionais. Algumas relataram assédio no ambiente de trabalho ou, ainda, se tornavam suspeitas de terem crescido na empresa em troca de favores sexuais, e não como consequência de sua capacidade.
A mulheres tendem a ser afastadas dos cargos técnicos e da chamada área dura da TI, a programação,e ocupar vagas gerenciais ou nichos, como análise de sistemas, justamente onde se exige comunicaçãoe conciliação de conflitos, papéis sociais tradicionalmente considerados femininos.
Barbara Castro, pesquisadora
Essa desconfiança em relação à capacidade feminina encontra eco em uma série de exemplos concretos.“Sempre ouvi que mulher é boa para lidar com pessoas, não para escrever código”, conta Camilla Falconi. "Já houve situações em que meus colegas não me deixaram terminar a explicação por acharem que eu não estava entendendo a parte técnica", relata Mariana Carvalho, 24 anos, que atualmente faz mestrado em ciências da computação nos Estados Unidos. Já a instrutora de programação Vanessa T., 27 anos, teve um chefe que queriaimpor que ela trabalhasse com design contra sua vontade. Ela se queixa de não receber o devido crédito por suas capacidades na área de front-end, em que é especialista. "Quando precisam citar nomes, vejo meus colegas lembrarem até de pessoas que entraram recentemente na empresa, porém eu, que sou instrutora de cursos defront-end, sou raramente lembrada por esta habilidade."
Outros exemplos emblemáticos vêm de gigantes da tecnologia. O mais recente envolveu o Google. A empresa foi centro de um escândalo no Vale do Silício no começo de agosto de 2017. De forma anônima, o engenheiro James Damore escreveu ummanifesto afirmando que existem causas biológicas por trás da desigualdade na indústria da tecnologia. O funcionário doGoogle acabou demitido, mas o episódio jogou mais lenha na fogueira.
Já o Facebook foi denunciado pelo jornal Wall Street Journal em maio de 2017. Dados coletados por um engenheiro da rede socialrevelaram que o código escrito por mulheres foi rejeitado muito mais frequentemente do que o de seus colegas homens. Os resultadosdesencadearam um debate sobre o preconceito de gênero entre os empregados mais valorizados da empresa: os que criam os recursos utilizadospor quase dois bilhões de pessoas por mês. Para muitas engenheiras do Facebook, a descoberta confirmou suspeitas antigas de que sua codificaçãopassava por análises mais minuciosas que a dos homens.
Como outras grandes empresas de tecnologia, como a Apple., o Google e Facebook têm lutado para aumentar a participação feminina e as minorias sub-representadas. As mulheres representam 17% das funções técnicas da rede social, de acordo com seu último relatório de diversidade. Mas, segundo a consultoria Accenture, a proporção delas em postos de trabalho de tecnologia cairá dois pontos percentuais até 2025 se nada for feito.
A interferência do viés de gênero também foi identificada por um trabalho da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia. Os pesquisadores descobriram que os usuários do repositório de software GitHub aprovaram os códigos escritos por mulheres a uma taxa maior do que aqueles escritos por homens, mas apenas se a identidade delas não fosse revelada. “Nossos resultados sugerem que o preconceito existe, independentemente da competência delas”, escrevemos autores da pesquisa. Outro exemplo: uma pesquisa de Harvard, MIT e Universidade da Pensilvânia revelou que investidores tendem a considerar pitchesnarrados por homens mais persuasivos, lógicos e embasados em fatos que os de mulheres.
O outro lado da moeda: se elas se mostram confiantes, enfrentam resistência. “Já tive uma promoção negada porque o time de programadores (todos homens) não gostava da minha ‘agressividade’, palavras do líder de TI”, diz Alice Rangel, 29 anos. Ela não programa, mas tem experiência em startups de tecnologiae marketing, sua área de atuação. Alice também se sente preterida em eventos e premiações. "Observo que a frequência é predominantemente masculina", revela.
Por volta dos 30 anos, as mulheres experimentam um turbilhão: as pressões sociais se intensificam e elas passam a ser questionadas sobre maternidade. “Já fui desqualificada em vaga de emprego por ser casada e ainda não ter filhos. Mesmo falando que não tenho planos de engravidar, disseram que isso poderia acontecer e pediria licença”, conta Vanessa. “Nunca esconderam que minhas promoções eram delegadas a homens porque achavam que uma mãe não deveria ter certos cargos que exigiam viagens e horas extensas de trabalho”, diz Samanta Cristina Lopes, 44 anos, que trabalha com vendas e negócios na área de TI.
Como os exemplos mostram, a maternidade ainda é um tabu no mercado de trabalho. “Trata-se de um ranço cultural difícil de quebrar. Mas, cada vez mais pessoas busca propósito no que faz, e questiona paradigmas. A visão orientada estritamente pela redução de custos pode perder força”, diz Dani, do ImpulsoBeta.
A força de trabalho feminina em TI gera renda, inclusão e novos olhares sobre os produtos
A participação das mulheres em cursos de tecnologia já foi considerada um direito, um ponto importante para combater anaturalização dos papéis de gênero e estimular ambientes de trabalho mais diversos. “Hoje, muito mais que um direito, étambém uma necessidade para o desenvolvimento da área científica e tecnológica e do país que durante muito tempo deixou dereceber a contribuição da metade da população”, diz Nanci Stancki da Luz, coordenadora do Núcleo de Gênero e Tecnologia (GETEC) da UTFPR. Afinal, o crescimento econômico sustentável depende da participação e envolvimento das mulheres em todas as áreas, particularmente em tecnologia, que gera novos postos de trabalho mesmo com crise econômica.
A tecnologia representa uma possibilidade, ainda, de geração de renda e de emancipação econômica, já que o setor paga mais que os que costumam empregar mão de obra feminina. Um relatório global da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado em 2017, mostrou que a economia brasileira pode expandir em até R$ 382 bilhões ao longo de oito anos se aumentar a inserção das mulheres no mercado de trabalho. Isso traria um incremento de cerca de 3% ao PIB e levaria ao aumento no poder de consumo de bens e serviços.
Já um estudo da consultoria estratégica McKinsey, que vem examinando a diversidade no local de trabalho há vários anos, analisou dados deempresas de diferentes áreas, no Canadá, América Latina, Reino Unido e Estados Unidos. A conclusão: a diversidade traz dividendos às empresas. Organizações com diversidade de gênero e de etnia têm retorno financeiro acima da média nacional.
“Ouvia dizer que a tecnologia não é para mulher. Resolvi descobrir o porquê e me apaixonei pela área”
Ingrid V.
O número de profissionais formados em áreas tecnológicas não atende à demanda crescente das empresas,cada vez mais informatizadas. “O Brasil ainda tem carência de profissionais da área tecnológica. A presençadas mulheres ampliará a força de trabalho necessária para nosso desenvolvimento”, completa Nanci. Um estudodivulgado pela Softex aponta que o Brasil pode chegar a 2020 com um déficit de mão de obra qualificada em TI de408 mil profissionais. Outro trabalho, The Network Skills in Latin America, encomendado pela Cisco a IDC, é aindamais pessimista, estimando que tal déficit seria de 449 mil profissionais.
Outro ponto fundamental da participação feminina: trazer novos olhares e percepções, já que as mulheres se apropriariamda tecnologia como produtoras e não apenas consumidoras, como no quadro atual. Assim, elas teriam a oportunidade de resolverproblemas próprios de sua condição, o que evitaria distorções como apps de saúde que não contemplam o ciclo menstrual, como o Health, da Apple, que só incluiu a funcionalidade depois de muita polêmica. “Hoje, temos recursos que não compreendem totalmente a diversidade do seu público consumidor e que podem, inclusive, deixar as mulheres mais vulneráveis a questões de segurança e privacidade”, explica Karen Figueiredo, professora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), que investigacomo as meninas decidem por determinada carreira.
Além disso, as mudanças promovidas pela tecnologia em diversas indústrias impõem às empresas o desafio de acompanhá-las. Inovação tecnológica tem sido palavra de ordem em todas as companhias. Assim, ter conhecimento em tecnologia é importante para qualquer profissional, não apenas aqueles que trabalham diretamente com TI. “Se você não souber programar, você será como uma das pessoas iletradas da Idade Média que foram educadas a pensar pelos padres letrados”, disse Tim O’Reilly, entusiasta do software livre para campanha do site Code.org.
Mudança sistêmica que envolve empresas, poder público e organizações sem fins lucrativos
O primeiro passo para resolver o problema da diversidade de gênero em tecnologia é desconstruir naturalizações do que éentendido como masculino ou feminino e "normalizar" a área como uma possibilidade de carreira para as mulheres. Fazer issorequer a articulação de várias esferas e atores. Uma boa notícia vem das organizações sem fins lucrativos: no Brasil, assimcomo no restante do mundo, o número de projetos para debater o tema e atrair as garotas para a computação cresce a passoslargos. A Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) acolhe o [emailprotected] A UTFPR abraça iniciativas como o PyLadies e oprojeto Emílias – Armação em Bits, apoiado pelo edital Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação,do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Já a Sociedade Brasileira de Computação (SBC) possui o programa Meninas Digitais, que organiza aulas de robótica, oficinase minicursos sobre desenvolvimento web, jogos computacionais, construção de páginas pessoais, blogs e podcasting, além depalestras com a apresentação de casos de sucessos da participação feminina na área. “Procuramos fornecer informações dequalidade sobre a atuação profissional, incentivando as garotas a refletir sobre a pequena presença da mulher nessas áreas.Também buscamos obter dados sobre o processo de escolha profissional das jovens do ensino médio/técnico para nortear nossasações futuras”, explica o coordenador Cristiano Maciel, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Outro objetivo indiretoé atuar na permanência das estudantes que já fazem cursos nesta área, envolvendo-as com a causa do Meninas Digitais. Além de projetos acolhidos por universidades, existem diversas iniciativas brasileiras de mulheres que resolveram agir sobre a questão: Reprograma, Minas Programam, InfoPreta, Maria Lab, Django Girls, Desprograme, WoMakersCode, Rails Girls, entre tantos outros coletivos.
“Em uma entrevista em uma empresa que estava me contratando, a psicóloga me perguntou porque eu tinha escolhido uma profissão tão masculina. Eu perguntei se existiam profissões ‘masculinas’ e ‘femininas’ e se ela sabia que o número de mulheres havia crescido. Ela ficou surpresa”
Sara C.
O poder público pode fazer sua parte concebendo e implementando políticas pontuais, em diversas áreas, a começar pela educação.São exemplos o redesenho dos currículos escolares e a introdução de disciplinas neutras (conteúdos de matemática sem exemplos que vinculem o aprendizado ao universo masculino, por exemplo), ensino de tecnologia desde a primeira infância, como as oficinas de robótica da creche da USP São Carlos, a sensibilização de docentes para as dinâmicas sociais de gênero e seus mecanismos de criação de desigualdades. “Consolidar uma educação que priorize a igualdade é fundamental. O processo de socialização das crianças deve ser repensado, pois não há sentido algum na reprodução da ideia de que há alguns brinquedos/cores/comportamentos adequados para meninose outros para meninas”, defende Nanci.
Outras políticas públicas podem estimular a participação de mulheres na área tecnológica e reduzir as disparidades. São exemplos a criação de mecanismos de fiscalização das leis trabalhistas, em especial a obediência do limite de horas semanais trabalhadas e o fortalecimento de políticas sociais para o cuidado de crianças, a fim de apoiar a mãe trabalhadora.
A última ponta nesse esforço são as empresas, que devem construir espaços de trabalho que rejeitem o machismo, o sexismo, a misoginia e estimulem a igualdade de gênero. Uma vez que se formam nas universidades e entram formalmente na indústria, as meninas devem ser amparadas em seu ambientede trabalho com políticas de recrutamento e retenção. “Não acho que temos apenas que trabalhar mais para alcançar a inclusão de que precisamos.Em vez disso, nossa sociedade exige uma mudança sistêmica em que as pessoas que já estão incluídas ajudam a resolver esses desequilíbrios. Isso pode acontecer por meio de modelos femininos, mas também homens no poder que ajudam as mulheres e outras minorias a avançar e ser incluídas”, diz Simone, da Universidade de Londres.
Diversas empresas têm apoiado a diversidade na tecnologia porque perceberam que são parte importante da solução e que o cenário não vai mudar se elas não fizerem a sua parte."Apesar dos índices de representatividade feminina nas empresas ainda não serem ideais, é preciso celebrar as pessoas e organizações que trabalham para possibilitar que meninas e mulheres consigam oportunidades no setor de tecnologia. Na CA, acreditamos que a educação é essencial para um setor plural e igualitário, e por isso apoiamos dezenas de organizações focadas em diversidade ao redor do mundo. Além disso, também promovemos atividades internas e externas para conscientização e mudança de paradigmas que impedem um rápido avanço no âmbito da igualdade de gênero", disse Claudia Vásquez, presidente e diretora-geral da CA na América Latina, em declaração à PrograMaria.
Por que existem tão poucas mulheres na TI? O principal problema para ingressar as mulheres na TI é uma questão cultural. Ainda é ensinado que tecnologia, matemática, programação não são áreas de estudos para as mulheres. Os cursos de tecnologia cresceram 586% nos últimos 24 anos aqui no Brasil.
Existe um histórico social e cultural que impede as mulheres, desde crianças, de acreditarem que elas podem atuar na área de tecnologia. Pesquisas mostram que a partir dos 6 anos as meninas começam a pensar que não são boas para as exatas, logo cria-se um intelecto de que computador é apenas para meninos.
Qual é a importância da mulher na tecnologia? As mulheres na tecnologia são — ou devem ser vistas assim — tão importantes quanto os homens, uma vez que são dotadas de muita capacidade técnica e intelectual, além de terem habilidades específicas que facilitam o desenvolvimento do trabalho, como visão ampla e sistêmica.
Educação e conscientização: a tecnologia também pode ser usada para educar e conscientizar as mulheres sobre questões de segurança e prevenção da violência. Existem muitos recursos online, como sites e aplicativos, que fornecem informações úteis sobre como se manter segura em diferentes situações.
Introduction: My name is Lidia Grady, I am a thankful, fine, glamorous, lucky, lively, pleasant, shiny person who loves writing and wants to share my knowledge and understanding with you.
We notice you're using an ad blocker
Without advertising income, we can't keep making this site awesome for you.